
Confúcio, também conhecido como K'ung Ch'iu, K'ung Chung-ni ou Confucius, nasceu em 27 de Agosto de 551 a.C., em Tsou, uma pequena cidade no estado de Lu, hoje Shantung e morreu em 479 a.C. com 72 anos; foi o maior pensador e filósofo chinês de todos os tempos. Os pensamentos de Confúcio foram desenvolvidos num sistema filosófico conhecido por confucionismo.
Se o víssemos agora, em pessoa, achar-lhe-iamos o aspecto um tanto cómico, com as narinas largas, olhos oblíquos, com uma protuberância no alto da cabeça, a barba e o bigode caindo em três largas franjas. Vestia uma túnica que lembrava um quimono japonês. Era um homem de elevada estatura e de compleição vigorosa. Caçador incansável, músico inspirado, foi sobretudo um génio no campo intelectual.
Embora o mundo ocidental não tenha ainda alcançado todo o valor da sua perspicaz sabedoria, Confúcio ocupa um lugar destacado em toda a história da humanidade. Foi o único homem que conseguiu moldar, com a sua influência, o pensamento e os hábitos de uma nação.
Confúcio nasceu na China mais de quinhentos anos antes do nascimento de Jesus Cristo. Foi um dos mais notáveis mestres da arte de viver, e exerceu o seu magistério com singeleza insuperável. Não foi santo nem profeta. Não possuía a chave dos segredos do Universo.
Embora se diga com frequência que as suas teorias influenciaram a religião da China, a verdade é que se preocupou pouco com a religião ou com o conceito da vida eterna. O seu empenho mais ardente era conseguir que o homem agisse moralmente bem.
Embora se diga com frequência que as suas teorias influenciaram a religião da China, a verdade é que se preocupou pouco com a religião ou com o conceito da vida eterna. O seu empenho mais ardente era conseguir que o homem agisse moralmente bem.
Confúcio reuniu a sua doutrina num preceito, uma norma fundamental de conduta que tem o seu equivalente no Evangelho: "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti".
Por vezes, os ensinamentos de Confúcio revelam-se singularmente análogos aos contidos nas Escrituras. Esta similaridade deu, aliás, matéria para um livro em que se estabelecem as analogias e as diferenças entre uns e outros. Por exemplo o mandamento cristão: "Não julgues, se não quiseres ser julgado" equivale à sentença de Confúcio segundo a qual, para julgarmos os outros, devemos servir-nos do nosso foro intimo como termo de comparação. Não poderíamos nós ter cometido o mesmo pecado? Por outro lado, a contrastar com o preceito cristão de retribuir com o bem a quem nos faz mal, Confúcio sustentava que se devia responder " ao mal com justiça e ao bem com bondade".
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Confúcio mostrou, desde criança, grande inclinação para toda a espécie de ritos e cerimónias. Apreciava a música e sabia cantar e tocar alaúde e citara. Na idade madura, quis adestrar-se em tudo o que tinha relação com a arte de viver; abandonou, então, a sua província natal de Lu e partiu para a capital, a fim de estudar com aplicação " as leis da música e da etiqueta".
Confúcio ganhava a vida como mestre. Não cobrava dos seus alunos uma importância fixa e ensinava gratuitamente os jovens pobres mas dotados. O que chegou até nós da sua doutrina deve-mo-lo ás extensas compilações feitas pelos seus discípulos sobre a forma de máximas soltas e troços de conversa. Infelizmente, não formam um conjunto relacionado com a história da sua vida, como é o caso de Jesus, e de facto torna-se menos interessante a sua leitura. Também lhes falta a eloquência dos Evangelhos Cristãos; mas Confúcio desconfiava dela. "Em matéria de linguagem", sustentava, " o que importa é exprimir a ideia". A sua prosa é, de facto, sempre tão linear e límpida como a destes ditames:
Aonde fores vai com todo o teu coração.
O maior dos defeitos é ter defeitos e não procurar corrigi-los.
Não te suponhas tão grande que os outros te pareçam pequenos.
A sua inteligência tinha um pendor cientifico. Ao acentuar a necessidade da maleabilidade de espírito , de substituir o dogma pela investigação dos factos, de evitar conclusões definitivas, adiantando-se mais de dois mil anos em relação à sua época. Foi ele quem primeiro formulou a norma que podemos considerar a regra de ouro da ciência: "Quando ignoramos uma coisa, reconhecer que a ignoramos é sabedoria". Desta forma repudiava as crenças supersticiosas e a subordinação do pensamento ao desejo. Igual finalidade pretendia ao insistir na importância da sinceridade, não simplesmente no discurso mas também no diálogo intimo de meditação. Para seguir o que ele chamava " o caminho da verdade", devemos procurar não nos enganarmos a nós mesmos. " O caminho da verdade ", dizia, " é largo e fácil de descobrir. O mal está em que os homens não o procuram. "
Não se deve deduzir destas razões que Confúcio aconselhasse a frouxidão moral ou a auto indulgência. Era um mestre tão rigoroso como exigente. Os seus discípulos deviam ser " rápidos na precessão precisos no juízo ambiciosos nas aspirações intelectuais e possuidores de conhecimentos amplos que lhes servissem para exercer a autoridade e suficientemente generosos para usar a clemência". Também deviam adquirir " dignidade, seriedade, firmeza de propósito, lealdade, bondade e atenção referente´àquilo que se dedicarem ".

Embora Confúcio tenha viajado vários anos pela China acompanhado de um reduzido grupo de discípulos, na esperanças de encontrar um monarca que lhe oferecesse a oportunidade de realizar as reformas com que sonhava, alguns traços do seu carácter contrariaram a sua própria ambição. Em primeiro lugar, falava com mais franqueza do que convém a um político. A um príncipe violento que pediu conselhos sobre a arte de governar os homens, limitou-se a responder: " Começa por aprender a governar-te a ti mesmo."
Além disso Confúcio não acreditava na aristocracia do sangue. Asseverava que " por natureza todos os homens são iguais". Se bem que, naquela época não se conhecesse a democracia tal como hoje é entendida, Confúcio sustentou - porventura pela primeira vez na História - que a verdadeira função do governo é velar não só pela prosperidade pública mas também pela felicidade do povo.
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Os discípulos choraram-no como a um pai. E, como derradeira homenagem, e porque na China era costume os filhos guardarem três anos de luto pelo progenitor, os discípulos empregaram todo esse tempo inventariando e anotando as instruções do mestre. Estas compilações converteram-se na Bíblia do povo chinês. Mais do que Bíblia, tornou-se o tratado de civilidade, a origem das leis e do procedimento político pelas quais aspirava a guiar-se todo o bom príncipe. No século III antes de Cristo, déspotas brutais proscreveram e queimaram os textos de Confúcio e condenaram à morte os seus adeptos. Esta perseguição, porém, em vez de acabar com os discípulos da filosofia de Confúcio, multiplicou o seu número, tal como um temporal que em lugar de apagar as chamas de um incêndio as activa e propaga. Mais tarde, reinou um Imperador sensato que adoptou o confucionismo e lhe deu a aprovação oficial.
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Templo de Taichung |
Tantos livros se escreveram acerca da sabedoria de Confúcio que a vida inteira de um homem não seria suficiente para os ler. A simplicidade, a pureza, a elevação da arte de viver ensinada e praticada pelo mestre farão que o seu pensamento resplandeça perpétuamente.